O envelhecimento é um privilégio que conta cada vez mais com a evolução da medicina e suas tecnologias. Além do aumento na qualidade de vida da população em geral, chegar até a terceira idade com habilidades físicas, cognitivas e emocionais bem preservadas é uma realidade cada vez mais comum.
AUMENTO DA POPULAÇÃO IDOSA NO MERCADO DE TRABALHO
Segundo pesquisa, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de pessoas com mais de 60 anos aumentou de 11,3% para 14,7% entre 2012 e 2021. Em 2018, a porcentagem de idosos[1] ativos profissionalmente, aumentou para 7,2%, o que representa 7,5 milhões de idosos atuando como força de trabalho.
Ao longo dos últimos anos, a participação de pessoas com idade superior aos 60 anos vem aumentando na força de trabalho do país. O envelhecimento da população, a necessidade de se manter produtivo e em contato com outras pessoas e as dificuldades financeiras das famílias são alguns dos principais motivos para os idosos desejarem continuar ou retornarem ao mercado de trabalho.
PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO – A DURA REALIDADE DO ETARISMO
Mas, como será que as empresas estão se adaptando para manter e receber esses trabalhadores mais velhos, que seguem produtivos, no mercado de trabalho? E os pares profissionais, sabem formar uma equipe de trabalho produtiva com pessoas idosas? Infelizmente as notícias para os 60+ não são boas.
Os idosos enfrentam hoje preconceito e discriminação com base na idade, conhecido como etarismo ou ageísmo. Existe uma forte crença que questiona a capacidade dessas pessoas diante dos jovens talentos que o mercado hoje absorve.
No entanto, apesar de o mercado estar cada vez mais voltado para a captação de desses jovens, a contratação de profissionais da terceira idade também traz vantagens para o sucesso de uma empresa, e o equilíbrio desse mix intergeracional pode ser o grande diferencial.
ENSINAMENTOS DO FILME “UM SENHOR ESTAGIÁRIO”
Assim como acontece no filme Um senhor estágiário brilhantemente protagonizado por Robert de Niro e Anne Hathaway. Ele, um viúvo de 70 anos, entediado com a vida de aposentado e com a necessidade de se sentir útil e contribuir com sua experiência profissional e pessoal, se candidata a uma vaga de estagiário sênior em uma startup de moda feminina, liderada pela jovem CEO Anne Hathaway.
Em um primeiro momento, ele sente o preconceito do etarismo, a dificuldade diante da necessidade de se adaptar ao mundo totalmente conectado, a nova dinâmica da vida da mulher moderna (e o desafio de equilibrar vários ‘pratos’ – trabalho, casa, filho e vida pessoal) e a adaptação para a convivência com a realidade de gerações mais novas.
Ela, por outro lado, começa reticente com a postura observadora dele, mas logo consegue perceber o quanto isso pode ser benéfico para ajudar na estruturação do crescimento do seu negócio, devido a vasta experiência profissional dele e sua maturidade diante dos desafios que se apresentavam. Além disso, ele se torna seu confidente e amigo fiel com quem ela se permite vulnerabilizar e se abre para receber ajuda.
Percebe a riqueza dessa troca entre gerações e como essa mistura complementar tem muito a oferecer em termos de crescimento para as empresas fora da ficção?!
AS GERAÇÕES E SUAS OCUPAÇÕES NO MERCADO DE TRABALHO
O mercado de trabalho é ocupado hoje basicamente por 3 gerações, que se comportam de forma diferente e que são conhecidos por 1. Geração Baby Boomers: (1941 a 1959); 2.Geração X (1960 a 1979); e 3. Geração Y ou Millenials (1980 e 1995). Perfis complementares cujas características podem ser alquimizadas e, com isso, formarem um time incrível, onde todos tem o que ensinar e o que aprender uns com os outros.
Os babies boomers viveram durante o período pós-guerra, entre 1941 e 1959. Recebem esse nome por terem nascido durante o período do baby boom, isto é, a época em que a taxa de natalidade disparou em vários países depois de a Segunda Guerra Mundial ter chegado ao fim. São pessoas que valorizam muito o trabalho e têm uma forte preocupação em construir um patrimônio e ter uma carreira profissional estável.
A geração X, que hoje tem entre 40 e 60 anos de idade, cresceu no período de Guerra Fria e foi a primeira a experimentar os avanços tecnológicos. Seu lema era trabalhar e produzir – são os workaholics ou ‘viciados em trabalho’ – deixando de lado o idealismo. Por possuir um perfil mais conservador e ponderado, pessoas desta geração, costumam ser boas escolhas para cargos de maior responsabilidade, dentro das empresas.
A geração Y ou Millenials, ainda nasceu na época analógica mas migrou para o mundo digital, ou seja, a tecnologia faz parte de seu dia a dia. Foi um período de crise econômica, que exigiu deles maior preparação para conseguir um emprego, pois o nível de concorrência aumentou. Os millenials são ambiciosos e apostam na sua criatividade e necessidade de inovação. São um perfil muito bacana para se enquadrar em postos ligados à inovação e têm muito a ensinar sobre gestão ágil.
A geração Z ou Centenials (1996 até 2010) é a que assumirá o protagonismo dentro de algumas décadas e já desembarcaram no mundo com um tablet e um smartphone debaixo do braço. A internet e o mundo digital fazem parte do seu DNA, o que faz com que as relações interpessoais possam ser colocadas de lado. Possuem forte presença nas questões sociais e ambientais, são multitarefas, independentes, imediatistas, pouco pacientes e seu tempo de atenção é breve, como consequência do mundo digital, onde tudo se resolve e descobre com um simples ‘click’. As palavras de ordem dessa geração são estímulo e troca.
VANTAGENS DA TURMA 60+ NO MERCADO DE TRABALHO
Os millenials e a geração Z são profissionais inquietos e têm dificuldade de se manterem muito tempo em um emprego, enquanto pessoas da terceira idade são sábios, pacientes e ponderados, mantendo-se mais fiéis ao local de trabalho. Com vida já consolidada, possuem um perfil mais centrado e menos afobado.
A bagagem adquirida ao longo da carreira gera ‘soft skills’ importantes, como paciência, resiliência, persistência, foco e disciplina são apenas alguns, que remetem à inteligência emocional. Então chegamos a uma fórmula: experiência profissional + experiência de vida = mão de obra qualificada.
São mais prudentes, tranquilos e responsáveis para lidar com situações de tensão e momentos de crise. As relações interpessoais tendem a ser mais fáceis e afetivas, o coração ‘amolece’ e sobra lugar pra empatia e compaixão.
São pessoas que já aprenderam com os erros e acertos, portanto não se desestimulam ou desistem diante da primeira adversidade.
Voltando ao filme ‘Um senhor estagiário’, o estagiário sênior se tornou um apoiador e orientador extremamente experiente que ajudou, de maneira brilhante, no processo de organização e crescimento da empresa. Para os mais novos, era reconhecido como um mentor em assuntos profissionais, pessoais e amorosos.
Ele se destacou pelo humor, empatia e desejo genuíno de ajudar cada um que viesse ao seu encontro com um questionamento ou solicitação. Entretanto, sua pro atividade, fazia com que percebesse situações aonde poderia ser útil e entrava em ação. E por fim, descobriu que sua vida sexual e afetiva poderia ser reativada, bastou que o estímulo certo, aparecesse. Um filme que vale a pena ser assistido e que nos faz refletir sobre os preconceitos em relação à terceira idade, em todos os aspectos.
ETARISMO DIANTE DA TURMA 60+ NO MERCADO DE TRABALHO
Infelizmente, os preconceitos enfrentados são muitos, veja exemplos:
– Possuem menor capacidade cognitiva, mental e emocional para atuarem profissionalmente;
– Não se adaptam à novas tecnologias e, por isso, não são aptos a exercer alguns cargos;
– Não têm mais vigor físico para determinadas atividades profissionais;
– Representam mais riscos para a empresa pelo fato de necessitarem se ausentar do trabalho, com maior frequência, devido a questões de saúde.
Infelizmente, os idosos, aqui no Brasil e em outras partes do mundo, ainda são alvo de maus tratos, falta de reconhecimento, desrespeito, bullying e indiferença perante à sociedade e, em muitos casos, pelos próprios familiares e amigos.
BONS EXEMPLOS VINDOS DO ORIENTE – APRENDENDO COM CHINA E JAPÃO
Na China e no Japão, a velhice é sinônimo de sabedoria e respeito. O processo de envelhecimento é visto com naturalidade e inerente a todos. Os idosos são reconhecidos por toda experiência acumulada ao longo de sua vida e a família é seu porto seguro. Na sociedade chinesa é comum se encontrar anciãos, com 90/100 anos, fazendo diariamente atividade física nos parques municipais.
Os japoneses, por exemplo, consultam os anciãos antes da tomada de qualquer decisão, por valorizarem sua sabedoria e sua experiência. Os idosos têm intensa atuação nas decisões importantes de seus grupos sociais, especialmente nos destinos políticos.
Enfim, o envelhecimento pode e deve ser visto como um momento sublime da vida onde só você sabe como esse caminho foi construído: suas conquistas, seus tropeços, seus recomeços, seus cansaços, suas dúvidas, sua força, sua vulnerabilidade, suas noites em claro, seus dias de glória e que ninguém tem o direito de julgar.
Os números estão aí para mostrar que a presença do profissional da terceira idade no mercado de trabalho é bem-vinda e necessária — feliz da empresa que perceber essa vantagem competitiva.
FONTES CONSULTADAS:
https://www.gupy.io/blog/terceira-idade-mercado-trabalho
[1] indivíduos com 60 anos ou mais de acordo com o Instituto e a OMS.